quinta-feira, 4 de abril de 2024

OS MESTRES DO CRIME

 Jornal "Correio da Manhã",

14 de abril de 2003.



Num canal de televisão norte-americano, passava em tempos um programa semanal intitulado “Os criminosos mais estúpidos da América”.

A ideia nasceu na cabeça do produtor depois de este verificar que os seus filhos se entusiasmavam com séries do tipo “Mistérios por resolver”, que retratam casos de crimes perfeitos, em que a polícia é vencida.

Como contraponto, o profissional da televisão resolveu conceber um espectáculo em homenagem aos criminosos menos hábeis.

Na realidade, a maior parte dos delinquentes não são profissionais ou cérebros particularmente dotados. Muitos deles são alcoólicos ou toxicodependentes, cuja violência é irracional, estando dispostos a tudo para arranjar algum dinheiro. Outros são indivíduos perfeitamente normais, que um dia fizeram o maior disparate da vida deles.

Como muitos estabelecimentos e até vias públicas são dotadas de câmaras de vigilância com gravação, as respectivas cassetes de video permitiam fazer um divertido programa de televisão.

Eram inúmeros os casos de indivíduos que, apanhados com armas proibidas ou droga no bolso, explicavam que, na verdade, as calças não lhes pertenciam. Assim, desconheciam que aqueles objectos ali se encontravam. Como se fosse muito vulgar pedir emprestado um par de calças ... !

Um matulão com cerca de um metro e noventa disse até que os jeans que envergava pertenciam à namorada, que se encontrava ao seu lado. A rapariga tinha uma cintura correspondente a menos de metade da dele. Como o polícia chamou a atenção para o facto, o homem, sem perder a calma, disse: “É que ela emagreceu !”. É de presumir que a jovem não o tenha ido visitar muitas vezes à cadeia.

Aqui há tempos, deparei-me com um caso insólito.

Um indivíduo de 81 anos de idade vivia sozinho em casa. Às oito da manhã, acordou e não ganhou para o susto. Debaixo da sua cama, encontrava-se um assaltante a dormir, com uma meia de vidro enfiada na cabeça.

O dono da casa telefonou para a polícia. Os agentes da autoridade não conseguiram acordar o meliante, tão profundo era o seu sono. Levaram-no ao colo para a viatura policial e só a caminho da esquadra é que ele despertou.

O que é que se tinha passado? No dia anterior, o intruso estivera a beber até ficar completamente embriagado. Decidiu então ir assaltar uma casa. Quando já se encontrava lá dentro, ouviu o dono da mesma meter a chave à porta. Imediatamente, escondeu-se debaixo da cama. O tempo passou e a bebedeira convidou ao sono.

Interroguei-o e ele só me respondia que não se lembrava de nada. Apenas se recordava de acordar quando ia a caminho da esquadra.

Perguntei-lhe como é que se introduzira dentro da habitação, já que não havia sinais de arrombamento, fazendo presumir que ele recorrera a chaves falsas. Disse que não fazia a mínima ideia e ainda sugeriu que alguém o tivesse posto lá dentro de casa.

Abri um envelope e, com alguma repugnância, peguei na meia de vidro que ele tinha envergado, ao mesmo tempo que lhe perguntava porque razão a colocara na cabeça. Também me garantiu não saber para que serviria a meia.

Ele há com cada um...


CONVENCER O JUIZ

  Jornal "Correio da Manhã", 1 de setembro de 2003. Quando o julgamento está prestes a chegar ao fim e já se ouviram todas as test...