Jornal "Correio da Manhã",
21 de abril de 2003
Acompanhei
com interesse o desfecho do julgamento que opôs o actor Michael Douglas e sua
mulher Catherine Zeta-Jones à revista inglesa “Hello!”.
O
par casou-se em Novembro de 2000 numa cerimónia orçada em 1,9 milhões de euros,
que decorreu num hotel em Nova Iorque. Reuniram-se 350 convidados, entre os
quais se contava o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Cada um
deles assinou uma declaração na qual se comprometia a manter confidencialidade
sobre a cerimónia e a não captar fotografias.
Apenas
um fotógrafo foi autorizado a levar a sua máquina, sendo os retratos vendidos à
revista britânica “OK!” por 1,6 milhões de euros.
O
diabo é que um intruso, filho de um conhecido político inglês, penetrou no
recinto da festa. Trazia escamoteada na cintura uma máquina fotográfica e
desatou a captar imagens, que foram publicadas pela “Hello!”.
Numa
das fotografias, via-se Michael Douglas a enfiar uma garfada de bolo na boca da
noiva. As más-línguas chamaram logo comilona à actriz: Catherine “Eater” Jones.
A
actriz intentou uma acção, num tribunal londrino, contra a revista.
Alegou
que sofrera danos morais significativos devido ao desgosto e aos comentários
que a reportagem fotográfica clandestina provocara. Exigia uma indemnização de
2,8 milhões de euros.
O
julgamento teve momentos especiais.
O
advogado da “Hello!” insistia que tudo não passava de uma questão de dinheiro e
que Catherine não teve nenhum sofrimento psicológico.
Referindo-se
à quantia recebida pela outra revista, a actriz respondeu-lhe em plena sala de
audiências: “1,6 milhões de euros é muito dinheiro para as pessoas que estão
nesta sala, mas não é assim tanto para mim”. Fez-se um profundo silêncio no
tribunal.
A
representante da revista também deu mostras de algum pedantismo.
A
Marquesa de Varela, de ascendência uruguaia, admitiu saber que o paparazzo iria
infiltrar-se no decorrer da cerimónia.
Confrontada
com a fraca qualidade das fotografias assim captadas, quando comparadas com as
imagens oficiais, a testemunha disse: “Não se pode comparar a Armani com a
Zara”.
O
juiz Lindsay acabou por dar razão a Catherine Zeta Jones e condenou a revista a
indemnizá-la em montante ainda por determinar. O mais natural é agora ser
interposto recurso da decisão.
Em
Portugal, recentemente ia-se gerando um imbróglio por causa do casamento de uma
conhecida apresentadora de televisão. Uns dias antes da cerimónia, uma revista
publicou na capa uma fotografia da celebridade com o seu vestido de noiva.
Afinal, tudo não passava de uma montagem. Falou-se em processos judiciais, mas
as partes acabaram por se entender.
Nos
tempos do Estado Novo, ocorreu um episódio curioso.
Em
1951, Coimbra acolheu o Congresso da União Nacional, a associação cívica que
apoiava o Governo.
Os
organizadores decidiram que, na sala de entrada, deveria figurar uma fotografia
gigante de Salazar. Sendo o ditador professor universitário daquela cidade,
impunha-se que surgisse com as vestes doutorais, de capelo e borla. Todavia, o
Presidente do Conselho nunca tinha sido fotografado com tal indumentária.
Resolveram
então pedir ao delfim de Salazar, o Professor Marcello Caetano, uma fotografia
deste, de capelo e borla. Substituíram a cabeça pela de Salazar e realizaram
uma fotomontagem que parecia perfeita.
O
único problema é que Salazar cultivava uma imagem de solteirão, exclusivamente
dedicado aos assuntos de Estado. Ora na enorme fotografia, ele aparecia com uma
aliança de casamento na mão esquerda: a de Marcello Caetano.