quinta-feira, 4 de abril de 2024

FOTOGRAFIAS SECRETAS

 Jornal "Correio da Manhã",

21 de abril de 2003



Acompanhei com interesse o desfecho do julgamento que opôs o actor Michael Douglas e sua mulher Catherine Zeta-Jones à revista inglesa “Hello!”.

O par casou-se em Novembro de 2000 numa cerimónia orçada em 1,9 milhões de euros, que decorreu num hotel em Nova Iorque. Reuniram-se 350 convidados, entre os quais se contava o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Cada um deles assinou uma declaração na qual se comprometia a manter confidencialidade sobre a cerimónia e a não captar fotografias.

Apenas um fotógrafo foi autorizado a levar a sua máquina, sendo os retratos vendidos à revista britânica “OK!” por 1,6 milhões de euros.

O diabo é que um intruso, filho de um conhecido político inglês, penetrou no recinto da festa. Trazia escamoteada na cintura uma máquina fotográfica e desatou a captar imagens, que foram publicadas pela “Hello!”.

Numa das fotografias, via-se Michael Douglas a enfiar uma garfada de bolo na boca da noiva. As más-línguas chamaram logo comilona à actriz: Catherine “Eater” Jones.

A actriz intentou uma acção, num tribunal londrino, contra a revista.

Alegou que sofrera danos morais significativos devido ao desgosto e aos comentários que a reportagem fotográfica clandestina provocara. Exigia uma indemnização de 2,8 milhões de euros.

O julgamento teve momentos especiais.

O advogado da “Hello!” insistia que tudo não passava de uma questão de dinheiro e que Catherine não teve nenhum sofrimento psicológico.

Referindo-se à quantia recebida pela outra revista, a actriz respondeu-lhe em plena sala de audiências: “1,6 milhões de euros é muito dinheiro para as pessoas que estão nesta sala, mas não é assim tanto para mim”. Fez-se um profundo silêncio no tribunal.

A representante da revista também deu mostras de algum pedantismo.

A Marquesa de Varela, de ascendência uruguaia, admitiu saber que o paparazzo iria infiltrar-se no decorrer da cerimónia.

Confrontada com a fraca qualidade das fotografias assim captadas, quando comparadas com as imagens oficiais, a testemunha disse: “Não se pode comparar a Armani com a Zara”.

O juiz Lindsay acabou por dar razão a Catherine Zeta Jones e condenou a revista a indemnizá-la em montante ainda por determinar. O mais natural é agora ser interposto recurso da decisão.

Em Portugal, recentemente ia-se gerando um imbróglio por causa do casamento de uma conhecida apresentadora de televisão. Uns dias antes da cerimónia, uma revista publicou na capa uma fotografia da celebridade com o seu vestido de noiva. Afinal, tudo não passava de uma montagem. Falou-se em processos judiciais, mas as partes acabaram por se entender.

Nos tempos do Estado Novo, ocorreu um episódio curioso.

Em 1951, Coimbra acolheu o Congresso da União Nacional, a associação cívica que apoiava o Governo.

Os organizadores decidiram que, na sala de entrada, deveria figurar uma fotografia gigante de Salazar. Sendo o ditador professor universitário daquela cidade, impunha-se que surgisse com as vestes doutorais, de capelo e borla. Todavia, o Presidente do Conselho nunca tinha sido fotografado com tal indumentária.

Resolveram então pedir ao delfim de Salazar, o Professor Marcello Caetano, uma fotografia deste, de capelo e borla. Substituíram a cabeça pela de Salazar e realizaram uma fotomontagem que parecia perfeita.

O único problema é que Salazar cultivava uma imagem de solteirão, exclusivamente dedicado aos assuntos de Estado. Ora na enorme fotografia, ele aparecia com uma aliança de casamento na mão esquerda: a de Marcello Caetano.


CONVENCER O JUIZ

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